E lá vou eu falar de novo sobre os impactos da crise na terra do samba, futebol, caipirinha e jabuticabas...
Antes de mais nada, um esclarecimento: na semana passada eu comentava entre amigos que preferia comprar um carro brasileiro ou de alguma indústria já estabelecida aqui, ao invés de um chinês (ou de qualquer outra procedência), cujo fabricante não investisse na Terra Brasilis.
Eis que o governo decretou ontem aumento de 30% do IPI para carros e caminhões importados que não possuam certos requisitos de nacionalização.
E você deve estar dizendo: então ela concorda em gênero, número e grau com esta medida.
A minha resposta é simples: NÃO!
Por que não? Será que é só porque eu sou do contra? Também não, embora muitas pessoas jurem que seja só pelo prazer de polemizar ... Quem, como eu, já é quase testemunha ocular da pré-história, deve se lembrar da famigerada Lei da Informática da década de 80. Onde isso nos levou? A 20 anos de atraso tecnológico. Também, não posso me esquecer do Collor dizendo que iria permitir a importação de carros pois os nossos eram verdadeiras "carroças", o que era verdade.
Todas as vezes em que o governo mete o bedelho em alguma coisa, através de redução ou aumento de imposto, ou criação de subsídios, dá errado, pois significa privilegiar alguém em detrimento de outros. E é isso o que me preocupa - não acredito na capacidade de qualquer governo em fazer uma "intervençãozinha" na Economia sem efeitos deletérios. Um aumento do IPI aqui, uma forcinha para um certo setor da economia acolá e quando a gente vê já virou uma bagunça sem igual...
Um ditado popular deveria ser lembrado pelos formuladores da nossa política econômica: "de boas intenções o inferno está cheio...."
Em Julho de 2008, há 3 anos atrás, a cotação do Real em relação ao Dólar americano atingiu a marca de 1.56. Não muito diferente da cotação que presenciamos recentemente. Mas por que a diferença de atitude de nosso sagaz ministro da Economia, que perde até o sono com isso? Não acredito que ele perca o sono por conta da valorização da nossa moeda em si, mas pela percepção que sua chefa terá em relação a isso. “Como assim?”
ResponderExcluirEm 2008, o chefe do Mantega era reconhecidamente averso a discussões intelectuais e, principalmente, a trabalho. Ora, o ministro vai arriscar o emprego – que lhe trouxe uma visibilidade que nunca teria por mérito – importunando o chefe com discussões de política industrial, balança comercial, paridade de poder de compra, carry trade, déficit em conta corrente, ajuste fiscal. Se o antigo chefe dele lesse esse artigo, essa meia dúzia de termos já o deixariam nervoso. Imagina um subordinado apresentando isso em horário de trabalho? Inconcebível, demissão por justa causa.
Já a nova chefa aparenta ser mais atenta aos problemas econômicos do Brasil e seu efeito no futuro. Wishful thinking. Mas podemos afirmar que ela tem menos aversão ao trabalho – e cobra isso de seus subordinados. É uma mudança radical para nosso caro ministro da Fazenda, pois agora para agradar o chefe e manter os holofotes, teria que mostrar serviço e não se esconder atrás do marcador (metáforas futebolísticas viraram jargão político e econômico graças ao antigo chefe).
O desafio econômico-financeiro que influencia a cotação do Real em relação ao Dólar americano é muito maior que a cotação em si. Não precisa ser inteligente para saber isso. Portanto, perder o sono imaginando como frear a valorização é menos legítimo que perder o sono por medo do bicho papão.
O país apresenta condições de crescimento, no momento, superiores ao de muitos países mundo afora. Isso incentiva a entrada de divisas. A taxa de juros é uma das mais altas no mundo – ao mesmo tempo que a taxa de juros nos países desenvolvidos está historicamente baixa – o que também é um excelente incentivo para entrada de dividas para se aproveitar do chamado “carry trade”. Ao mesmo tempo, não apresentamos condições para um recuo da inflação. Uma cotação de câmbio mais favorável à importação ajudaria muito a conter as pressões inflacionárias.
“Como balancear essa equação?” Não é essa a pergunta que o ministro se faz.
“Minha chefa está me cobrando trabalho, o que eu faço, dentro das minhas limitações?” seria mais plausível. Não, não seria. Especialmente depois que o Financial Times, em setembro de 2010, deu a autoria do termo “currency wars” ao nosso ministro. Não tem psicanalista que fará o ego do Mantega convergir para o que ele realmente é capaz de conquistar. Para ele, qualquer medida que ele fizer será positiva e bem vista aos olhos da chefa.
“Minha chefa está me cobrando trabalho. Vem comigo que te consagro!” seria um pensamento possível.
O que ele faz então? Resposta: medidas econômicas equivalentes a factóides – os mantegóides. Medidas absolutamente inócuas, mas que em um lapso de ingenuidade podem parecer eficazes. Não há espaço para explicar cada uma, mas a cotação atual e sua tendência são evidência empírica disso. Mas isso não conterá nosso ministro pró-ativo, que seguirá o mesmo modus operandi – tentará criar regras míopes que não resolverão o problema e até criarão problemas futuros. O limite será uma “canetada” na cotação para o câmbio, outra nos índices de inflação e outra em cotas para exportação de alimentos - a argentinização da economia do Brasil. Torço para que não chegue a esse extremo, mas a postura da equipe econômica não mudará. “Sabemos o que estamos fazendo” e, se der errado, “A culpa é de fatores externos”.